Quando criança, a britânica Victoria Wright começou a apresentar mudanças visíveis no rosto. Aos quatro anos, sua mandíbula cresceu de maneira incomum e seus olhos se tornaram mais salientes, o que levou ao diagnóstico de querubismo, uma condição genética rara. A doença é causada por uma mutação no gene SH3BP2, responsável por alterar sinais celulares envolvidos no remodelamento ósseo, fazendo com que parte da mandíbula e da maxila seja substituída por tecido fibroso, resultando em lesões que aumentam o volume facial.

O nome da condição vem da semelhança com os “anjinhos querubins” retratados no Renascimento, caracterizados pelas bochechas arredondadas. Normalmente, os primeiros sinais aparecem na infância e se desenvolvem até a puberdade, podendo regredir ou permanecer na vida adulta. Além do impacto estético, o querubismo pode afetar fala, mastigação, respiração e até visão. Embora a dor não seja frequente, muitos pacientes relatam desconfortos, como sinusite e incômodos faciais. O diagnóstico costuma ser feito por exames de imagem e confirmado por análises histológicas.
Não existe um tratamento único para a condição. O acompanhamento é individualizado e multidisciplinar, envolvendo radiografias regulares e possíveis cirurgias para corrigir obstruções ou melhorar a autoestima. Profissionais de diferentes áreas — odontologia, fonoaudiologia, oftalmologia e psicologia — costumam participar do cuidado, oferecendo suporte clínico e emocional. Ainda assim, muitos pacientes optam por não passar por procedimentos estéticos, mantendo suas características faciais como parte de sua identidade.

Foi o caso de Victoria Wright, que enfrentou bullying e estigmatização desde a infância, mas transformou sua experiência em ativismo. Ela relata ter sido alvo de apelidos cruéis e até piadas de humoristas, o que a motivou a lutar pelos direitos de pessoas com desfigurações faciais. Embora já tenha feito cirurgias para preservar a visão, optou por não realizar intervenções estéticas. “Minha desfiguração está interligada ao meu senso de identidade”, afirma. Hoje, Victoria trabalha com relações públicas, é ativista de caridade e, sobretudo, mãe, destacando que leva uma vida plena apesar dos preconceitos que ainda enfrenta.

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